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Os que começam.. __ Não há decerto exploração mais dolorosa que a das crianças. Os homens, as mulheres ainda pantomimam a miséria para lucro próprio.As crianças são lançadas no ofício torpe pelos pais,por criaturas indignas, e crescem com o vício adaptando a curvilínea e acovardada alma da mendicidade malandra. Nada mais pavoroso do que este meio em que há adolescentes de dezoito anos e pirralhos de três, garotos amarelos de um lustro de idade e mocoilas púberes sujeitas a todas as passividades. Essa criançada parece não pensar e nunca ter tido vergonha,amoldadas para o crime de amanhã, para a prostituição em grande escala. Há no Rio um número considerável de pobrezinhos sacrificados, petizes que andam a guiar senhoras falsamente cegas, punguistas sem proteção paralíticos, amputados, escrofulosos, gatunos de sacola,apanhadores de pontas de cigarros, crias de familias necessitadas, simples vagabundos à espera de complacências escabrosas, um mundo vário , o olhar de crime, o broto das árvores que irão obumbrar as galerias da Detenção, todo um exército de desbriados e de bandidos, de prostitutas futuras galopando pela cidade à cata do pão para os exploradores. Interrogados , mentem a principio, negando; depois exageram as falcatruas e aca- bam a chorar, contando que são o sustento de uma súcia de criminosos que a polícia não persegue. A metade desse bando conhece as leis do prefeito, os delegados de polícia e acompanha o movimento da politica indigena, oposicionista e vendo em cada homem importante uma roubalheira. Sao em geral os mendigos claramente defeituosos a que falta uma perna, um braço. A perda que os tornou inválidos é uma espécie de felicidade, a indolência e o sustento garantidos. A beira das calçadas o dia inteiro têm tempo de se tornarem homens e de ler os jornais. Fazem tudo isso com vagar. Quando um ponto se torna insustentável vão para outros, e há entre eles relações, morfeias que se ligam às úlceras, olhos em pus que olham com ternura compa- nheiros sem braços, e todos guardando a data do desastre que os mutilou, que os fez entrar para a nova vida com a saudade da vida passada. [...] João do Rio. A alma encantadora das ruas crônicas. São Paulo: Cia das Letras, 2008. Chama-se de progressão a forma de organização textual caracterizada pela ordenação temporal das informações. Encontre no texto um trecho que está organizado internamente em progressão. __

Pergunta

Os que começam.. __
Não há decerto exploração mais dolorosa que a das
crianças. Os homens, as mulheres ainda pantomimam a
miséria para lucro próprio.As crianças são lançadas no
ofício torpe pelos pais,por criaturas indignas, e crescem
com o vício adaptando a curvilínea e acovardada alma da
mendicidade malandra. Nada mais pavoroso do que este
meio em que há adolescentes de dezoito anos e pirralhos
de três, garotos amarelos de um lustro de idade e mocoilas
púberes sujeitas a todas as passividades. Essa criançada
parece não pensar e nunca ter tido vergonha,amoldadas
para o crime de amanhã, para a prostituição em grande
escala. Há no Rio um número considerável de pobrezinhos
sacrificados, petizes que andam a guiar senhoras falsamente
cegas, punguistas sem proteção paralíticos, amputados,
escrofulosos, gatunos de sacola,apanhadores de pontas de
cigarros, crias de familias necessitadas, simples vagabundos
à espera de complacências escabrosas, um mundo vário , o
olhar de crime, o broto das árvores que irão obumbrar as
galerias da Detenção, todo um exército de desbriados e de
bandidos, de prostitutas futuras galopando pela cidade à
cata do pão para os exploradores. Interrogados , mentem a
principio, negando; depois exageram as falcatruas e aca-
bam a chorar, contando que são o sustento de uma súcia
de criminosos que a polícia não persegue.
A metade desse bando conhece as leis do prefeito,
os delegados de polícia e acompanha o movimento da
politica indigena, oposicionista e vendo em cada homem
importante uma roubalheira. Sao em geral os mendigos
claramente defeituosos a que falta uma perna, um braço.
A perda que os tornou inválidos é uma espécie de
felicidade, a indolência e o sustento garantidos.
A beira das calçadas o dia inteiro têm tempo de se
tornarem homens e de ler os jornais. Fazem tudo isso com
vagar. Quando um ponto se torna insustentável vão para
outros, e há entre eles relações, morfeias que se ligam às
úlceras, olhos em pus que olham com ternura compa-
nheiros sem braços, e todos guardando a data do desastre
que os mutilou, que os fez entrar para a nova vida com a
saudade da vida passada.
[...]
João do Rio. A alma encantadora das ruas crônicas. São Paulo: Cia das
Letras, 2008.
Chama-se de progressão a forma de organização
textual caracterizada pela ordenação temporal das
informações. Encontre no texto um trecho que está
organizado internamente em progressão.
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Os que começam.. __ Não há decerto exploração mais dolorosa que a das crianças. Os homens, as mulheres ainda pantomimam a miséria para lucro próprio.As crianças são lançadas no ofício torpe pelos pais,por criaturas indignas, e crescem com o vício adaptando a curvilínea e acovardada alma da mendicidade malandra. Nada mais pavoroso do que este meio em que há adolescentes de dezoito anos e pirralhos de três, garotos amarelos de um lustro de idade e mocoilas púberes sujeitas a todas as passividades. Essa criançada parece não pensar e nunca ter tido vergonha,amoldadas para o crime de amanhã, para a prostituição em grande escala. Há no Rio um número considerável de pobrezinhos sacrificados, petizes que andam a guiar senhoras falsamente cegas, punguistas sem proteção paralíticos, amputados, escrofulosos, gatunos de sacola,apanhadores de pontas de cigarros, crias de familias necessitadas, simples vagabundos à espera de complacências escabrosas, um mundo vário , o olhar de crime, o broto das árvores que irão obumbrar as galerias da Detenção, todo um exército de desbriados e de bandidos, de prostitutas futuras galopando pela cidade à cata do pão para os exploradores. Interrogados , mentem a principio, negando; depois exageram as falcatruas e aca- bam a chorar, contando que são o sustento de uma súcia de criminosos que a polícia não persegue. A metade desse bando conhece as leis do prefeito, os delegados de polícia e acompanha o movimento da politica indigena, oposicionista e vendo em cada homem importante uma roubalheira. Sao em geral os mendigos claramente defeituosos a que falta uma perna, um braço. A perda que os tornou inválidos é uma espécie de felicidade, a indolência e o sustento garantidos. A beira das calçadas o dia inteiro têm tempo de se tornarem homens e de ler os jornais. Fazem tudo isso com vagar. Quando um ponto se torna insustentável vão para outros, e há entre eles relações, morfeias que se ligam às úlceras, olhos em pus que olham com ternura compa- nheiros sem braços, e todos guardando a data do desastre que os mutilou, que os fez entrar para a nova vida com a saudade da vida passada. [...] João do Rio. A alma encantadora das ruas crônicas. São Paulo: Cia das Letras, 2008. Chama-se de progressão a forma de organização textual caracterizada pela ordenação temporal das informações. Encontre no texto um trecho que está organizado internamente em progressão. __

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AdelaideElite · Tutor por 8 anos

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O trecho que está organizado internamente em progressão é: "A metade desse bando conhece as leis do prefeito delegados de polícia e acompanha o movimento da política indígena, oposicionista e vendo em cada homem importante uma roubalheira. São em geral os mendigos claramente defeituosos a que falta uma perna, um braço. A perda que os tornou inválidos é uma espécie de felicidade, a indolência e o sustento garantidos." Nesse trecho, as informações estão organizadas em uma sequência temporal, começando com a descrição dos mendigos que conhecem as leis e acompanham a política, e continuando com a explicação de como a perda de membros se torna uma espécie de felicidade para eles.
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